Make America Great Again: Torne a América grande Novamente (em generosidade)

Eliseu Roque do E. Santo

O que realmente significa o slogan da campanha de Donald Trump, “Make America Great Again” (“Torne a América Grande Novamente”)? O que, de fato, pode tornar a América grande? Para aqueles imersos em uma cultura capitalista de orientação neoliberal, a resposta parece óbvia: uma nação poderosa é uma nação cada vez mais rica. Nesse contexto, a missão de Trump parece ser a de tornar a América mais rica, ainda que isso implique no empobrecimento de outros (“America First!”).

No entanto, há um erro evidente no slogan “Make America Great Again”, que reside na suposição de que a América (EUA) não é grande, ou que não o seria como antes. De acordo com um relatório do Banco Mundial, os Estados Unidos é a maior economia do mundo, com um PIB superior a 26 trilhões de dólares (Trade Economics). As quatro marcas mais valiosas globalmente são americanas: Apple, Microsoft, Amazon e Google (Best Global Brands 2024). O ranking Global 2000 (Forbes), que classifica as maiores empresas do mundo, revela que, das dez primeiras colocadas, seis são norte-americanas. Em suma, os Estados Unidos já é grande economicamente, e talvez até grandes demais.

Outro possível equívoco do slogan “Make America Great Again” é a confusão entre a grandeza de uma nação e sua riqueza. Esse talvez seja o maior erro da filosofia liberal econômica na sociedade contemporânea, especialmente nos Estados Unidos. Platão, em sua obra A República, discorre sobre os perigos de se colocar a riqueza acima de tudo e sublinha a necessidade de considerar a justiça como a principal virtude. Ele adverte também sobre as consequências de uma oligarquia no poder, formada por aqueles que se tornam excessivamente ricos:

“… com a ideia fixa do lucro, fingem não ver os coitados e continuam a ferir com seus aguilhões (quero dizer, com seu dinheiro) os que se lhes entregam indefesos, e à guisa de pais com prole numerosa, aumentam muitas vezes seu capital, com o que só fazem crescer na cidade o número dos zangões e dos mendigos.” (Platão, 2019, p. 1640).

Para Platão (2019), a obsessão pelo lucro gera desigualdade e aumenta a pobreza de uma nação, ao passo que a verdadeira virtude não vem da riqueza. Ao contrário, “é a virtude que gera as riquezas, tanto públicas quanto privadas” (Platão, 2019, p. 45).

Essa visão platônica se conecta com os ensinamentos das grandes tradições religiosas. Buda ensinou que a riqueza deve ser adquirida de maneira ética e justa, sem exploração. No Islamismo, o Profeta Muhammad afirmou: “O verdadeiro rico não é aquele que tem muito dinheiro, mas aquele que é rico em sua alma” (Sahih al-Bukhari, 6081). Já no Cristianismo, Jesus afirmou que a busca pela justiça é o primeiro passo para alcançar todas as outras coisas (Mateus 6:33).

Assim, para tornar a América grande de fato, especialmente em um país onde a maioria se identifica como cristã, seria necessário buscar a justiça, a equidade, o bem comum e a solidariedade. A história ensina que grandes impérios, alimentados pela ambição de riquezas e poder, sucumbiram sufocados por sua própria ganância, arrogância e vaidade. A interpretação neoliberal da grandeza da América pode ser o prenúncio da ruína de mais um “Império”. Que a mesquinhez e a avareza desapareçam e que a América se torne grande novamente (again) em generosidade .

Referência
PLATÃO. Box Grandes Obras de Platão. Tradução de Carlos Alberto Nunes, Maria Lacerda de Souza, A. M. Santos. São Paulo: Mimética, 2019. Edição Kindle.

BÍBLIA SAGRADA. Bíblia Online. disponível em: https://www.bibliaonline.com.br/nvt/mt/6. Acesso em: 23 fev. 2025. 

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